Uma leitura superficial da bíblia e o desconhecimento dos costumes da época podem produzir conclusões absurdas a respeito dos fatos bíblicos, como veremos no seguinte exemplo:
II Rs.2.11 – Elias foi arrebatado.
II Rs.3.1 – Começa o reino de Jorão em Israel.
II Rs.8.16 – Começa o reino de Jeorão em Judá (5 anos depois do início de Jorão).
II Cr.21.12 – Elias escreve uma carta para o rei Jeorão de Judá.
Observando-se tal sequência, surge a pergunta: Como Elias poderia ter escrito essa carta, se ele havia sido arrebatado muitos anos antes?
Algumas pessoas (espíritas), sugerem duas explicações alternativas:
1 - Elias não foi arrebatado. Ele estava na terra quando escreveu a carta. Logo, o texto sobre o arrebatamento é apócrifo, ou seja, falso.
2 - Elias morreu e enviou uma carta psicografada para o rei através de um médium.
Seria igualmente absurda a seguinte análise:
Mc.6.16 – João Batista foi degolado, por ordem de Herodes.
Mc.6.20 – Herodes ouve mensagens de João Batista.
Seriam mensagens do além? Como Herodes poderia ouvir João no versículo 20, se ele morreu no versículo 16? (E olha que não tinha fita cassete, nem DVD nem MP3). É claro que um questionamento desse tipo não resiste a uma leitura atenta dos versículos 16 até 29. O exame do contexto é um dos princípios magnos da hermenêutica. A interpretação bíblica não pode ser feita com segurança a partir de versículos isolados. O verso 16 cita a morte de João e os versículos seguintes vão explicar as circunstâncias de sua morte, ou seja, vão narrar os últimos fatos da sua vida. Logo, não há que se falar em psicografia (tá amarrado!), mediunidade (tá queimado!), nem coisa parecida (tá amarrada também!).
Absurdo semelhante seria dizer que Pedro negou a Cristo 12 vezes: 3 em Mateus, 3 em Marcos, 3 em Lucas e 3 em João.
Voltemos, portanto, à história de Elias. Antes de explicar, vamos complicar um pouco mais. Compare II Rs.1.17 com II Rs.8.16:
II Rs.1.17 - "Assim, pois, morreu (Acazias, filho de Acabe) conforme a palavra do Senhor que Elias falara. E Jorão (seu irmão) começou a reinar em seu lugar (em Israel) no ano segundo de Jeorão, filho de Jeosafá, rei de Judá; porquanto Acazias não tinha filho". (As notas entre parênteses são do autor deste artigo).
II Rs.8.16 – "Ora, no ano quinto de Jorão, filho de Acabe, rei de Israel, Jeorão, filho de Jeosafá, rei de Judá, começou a reinar".
Vamos simplificar as afirmações:
II Rs.1.17 diz que, no segundo ano do reinado de Jeorão em Israel, Jorão começou a reinar em Judá.
II Rs.8.16 diz que, no quinto ano do reinado de Jorão em Judá, Jeorão começou a reinar em Israel.
Será que estamos diante de uma contradição bíblica? Qual rei começou a reinar primeiro? Quando encontrarmos contradições ou erros na bíblia, estejamos certos de que os errados somos nós e precário o nosso entendimento.
Dá para complicar um pouco mais? É possível. Veja:
II Rs.3.1 – "Ora, Jorão, filho de Acabe, começou a reinar sobre Israel, em Samaria, no décimo oitavo ano de Jeosafá, rei de Judá, e reinou doze anos".
Agora a confusão está completa (e bastante incrementada pela semelhança dos nomes). Afinal, Jorão começou a reinar sobre Israel no segundo ano do reinado de Jeorão de Judá, ou no décimo oitavo ano do rei Jeosafá de Judá?
Para sairmos desse nó (cego), precisamos conhecer um pouco dos costumes antigos. Algumas vezes, um príncipe começava a reinar enquanto o rei, seu pai, ainda era vivo (IRs.1.43; IIRs.15.5; Dn.5.1,29). Foi o que aconteceu nesse caso. No décimo sétimo ano do seu reinado, Jeosafá nomeou seu filho Jeorão como rei em Judá. Portanto, durante alguns anos, Judá teve dois reis, o pai e o filho. Tal medida tinha por finalidade garantir a sucessão real através daquele filho, dificultando que outra pessoa, até mesmo outro filho, assumisse o governo quando o pai morresse. Isto fica evidente no fato de que, após a morte de Jeosafá, seu filho Jeorão mandou matar todos os seus irmãos (IICr.21.4).
Assim, o décimo oitavo ano do reinado de Jeosafá em Judá era também o segundo ano do reinado do seu filho Jeorão, também em Judá. Foi quando começou o reinado de Jorão, filho de Acabe, em Israel, conforme IIRs.1.17 e IIRs.3.1 e IRs.22.50.
No quinto ano do reinado de Jorão sobre Israel, morreu o rei Jeosafá de Judá, e seu filho Jeorão assumiu sozinho o trono (IRs.22.50). Portanto, foi um novo começo para ele, conforme IIRs.8.16. Considerando esta como a efetiva entronização de Jeorão em Judá, fica parecendo que o seu governo tenha iniciado depois de Jorão em Israel.
Portanto, não existem erros nem contradições nem espiritismo nessa história. Se misturarmos os fatos dos livros de Reis e Crônicas, conforme fizemos no início, imaginando que a ordem em que os livros aparecem na bíblia corresponda à cronologia, criaremos fantasias espetaculares (Deus nos livre). Reis e Crônicas (e parte de Samuel) são relatos paralelos e não consecutivos. Sua relação é semelhante à existente entre os quatro evangelhos.
Se, porém, tomarmos apenas os livros de I e II Reis para análise, encontraremos a linha cronológica de modo mais evidente, mesmo porque, na bíblia hebraica, os dois compõem um só livro. Então, vejamos:
I Rs.22.50 – O rei Jeosafá morreu e seu filho Jeorão assumiu o trono.
II Rs.2.11 – Elias foi arrebatado.
Portanto, Elias teve tempo e todas as condições normais para enviar uma carta normal para o rei Jeorão. Não se trata de carta do além, nem psicografia (graças a Deus).
Conforme II Rs.1.17, Elias estava na terra, vivo, em corpo (carne e ossos), e alma e espírito (afinal, sou tricotomista) , ao mesmo tempo em que reinavam Jorão em Israel e Jeorão em Judá. Os três foram contemporâneos. Logo, o profeta poderia escrever uma carta para Jeorão, sem dificuldade (e sem mediunidade) . E se, de outro modo, Elias não estivesse na terra, Deus usaria Eliseu para levar a mensagem ao rei. Afinal, ele sucedeu Elias para quê? Só pra ganhar a capa? Não.
O texto de IIRs.3.1, que cita o início do reino de Jorão em Israel, é uma recapitulação do assunto, pois a posse do monarca já tinha sido relatada em 1.17. Logo, não ocorreu após o arrebatamento de Elias descrito no capítulo 2.
Podemos continuar a leitura de II Reis até o fim. Se começarmos a ler I Crônicas, que vem logo a seguir, precisaremos estar conscientes de que, depois das genealogias, o livro vai recontar a história dos reis de Israel e Judá. Só falta a turma da heresia mal feita dizer que Davi morreu em I Rs.2.10 e reencarnou em IICr.2.15. Na sequência das crônicas, os monarcas já citados aparecerão novamente no texto e Elias também (IICr.21.12) . Esta última referência corresponde ao final do primeiro livros dos Reis (compare IRs.22.50 com IICr.21.1).
Os apologistas do espiritismo querem provar, a qualquer custo, que Elias tenha morrido para que possam justificar sua suposta reencarnação em João Batista. Ainda não foi desta vez.
Encerro citando as palavras de Jesus: "Errais não conhecendo as escrituras nem o poder de Deus". Misericórdia! Amém.
Será que o profeta enviou uma carta do além para o rei Jeorão?
II Rs.2.11 – Elias foi arrebatado.
II Rs.3.1 – Começa o reino de Jorão em Israel.
II Rs.8.16 – Começa o reino de Jeorão em Judá (5 anos depois do início de Jorão).
II Cr.21.12 – Elias escreve uma carta para o rei Jeorão de Judá.
Observando-se tal sequência, surge a pergunta: Como Elias poderia ter escrito essa carta, se ele havia sido arrebatado muitos anos antes?
Algumas pessoas (espíritas), sugerem duas explicações alternativas:
1 - Elias não foi arrebatado. Ele estava na terra quando escreveu a carta. Logo, o texto sobre o arrebatamento é apócrifo, ou seja, falso.
2 - Elias morreu e enviou uma carta psicografada para o rei através de um médium.
Seria igualmente absurda a seguinte análise:
Mc.6.16 – João Batista foi degolado, por ordem de Herodes.
Mc.6.20 – Herodes ouve mensagens de João Batista.
Seriam mensagens do além? Como Herodes poderia ouvir João no versículo 20, se ele morreu no versículo 16? (E olha que não tinha fita cassete, nem DVD nem MP3). É claro que um questionamento desse tipo não resiste a uma leitura atenta dos versículos 16 até 29. O exame do contexto é um dos princípios magnos da hermenêutica. A interpretação bíblica não pode ser feita com segurança a partir de versículos isolados. O verso 16 cita a morte de João e os versículos seguintes vão explicar as circunstâncias de sua morte, ou seja, vão narrar os últimos fatos da sua vida. Logo, não há que se falar em psicografia (tá amarrado!), mediunidade (tá queimado!), nem coisa parecida (tá amarrada também!).
Absurdo semelhante seria dizer que Pedro negou a Cristo 12 vezes: 3 em Mateus, 3 em Marcos, 3 em Lucas e 3 em João.
Voltemos, portanto, à história de Elias. Antes de explicar, vamos complicar um pouco mais. Compare II Rs.1.17 com II Rs.8.16:
II Rs.1.17 - "Assim, pois, morreu (Acazias, filho de Acabe) conforme a palavra do Senhor que Elias falara. E Jorão (seu irmão) começou a reinar em seu lugar (em Israel) no ano segundo de Jeorão, filho de Jeosafá, rei de Judá; porquanto Acazias não tinha filho". (As notas entre parênteses são do autor deste artigo).
II Rs.8.16 – "Ora, no ano quinto de Jorão, filho de Acabe, rei de Israel, Jeorão, filho de Jeosafá, rei de Judá, começou a reinar".
Vamos simplificar as afirmações:
II Rs.1.17 diz que, no segundo ano do reinado de Jeorão em Israel, Jorão começou a reinar em Judá.
II Rs.8.16 diz que, no quinto ano do reinado de Jorão em Judá, Jeorão começou a reinar em Israel.
Será que estamos diante de uma contradição bíblica? Qual rei começou a reinar primeiro? Quando encontrarmos contradições ou erros na bíblia, estejamos certos de que os errados somos nós e precário o nosso entendimento.
Dá para complicar um pouco mais? É possível. Veja:
II Rs.3.1 – "Ora, Jorão, filho de Acabe, começou a reinar sobre Israel, em Samaria, no décimo oitavo ano de Jeosafá, rei de Judá, e reinou doze anos".
Agora a confusão está completa (e bastante incrementada pela semelhança dos nomes). Afinal, Jorão começou a reinar sobre Israel no segundo ano do reinado de Jeorão de Judá, ou no décimo oitavo ano do rei Jeosafá de Judá?
Para sairmos desse nó (cego), precisamos conhecer um pouco dos costumes antigos. Algumas vezes, um príncipe começava a reinar enquanto o rei, seu pai, ainda era vivo (IRs.1.43; IIRs.15.5; Dn.5.1,29). Foi o que aconteceu nesse caso. No décimo sétimo ano do seu reinado, Jeosafá nomeou seu filho Jeorão como rei em Judá. Portanto, durante alguns anos, Judá teve dois reis, o pai e o filho. Tal medida tinha por finalidade garantir a sucessão real através daquele filho, dificultando que outra pessoa, até mesmo outro filho, assumisse o governo quando o pai morresse. Isto fica evidente no fato de que, após a morte de Jeosafá, seu filho Jeorão mandou matar todos os seus irmãos (IICr.21.4).
Assim, o décimo oitavo ano do reinado de Jeosafá em Judá era também o segundo ano do reinado do seu filho Jeorão, também em Judá. Foi quando começou o reinado de Jorão, filho de Acabe, em Israel, conforme IIRs.1.17 e IIRs.3.1 e IRs.22.50.
No quinto ano do reinado de Jorão sobre Israel, morreu o rei Jeosafá de Judá, e seu filho Jeorão assumiu sozinho o trono (IRs.22.50). Portanto, foi um novo começo para ele, conforme IIRs.8.16. Considerando esta como a efetiva entronização de Jeorão em Judá, fica parecendo que o seu governo tenha iniciado depois de Jorão em Israel.
Portanto, não existem erros nem contradições nem espiritismo nessa história. Se misturarmos os fatos dos livros de Reis e Crônicas, conforme fizemos no início, imaginando que a ordem em que os livros aparecem na bíblia corresponda à cronologia, criaremos fantasias espetaculares (Deus nos livre). Reis e Crônicas (e parte de Samuel) são relatos paralelos e não consecutivos. Sua relação é semelhante à existente entre os quatro evangelhos.
Se, porém, tomarmos apenas os livros de I e II Reis para análise, encontraremos a linha cronológica de modo mais evidente, mesmo porque, na bíblia hebraica, os dois compõem um só livro. Então, vejamos:
I Rs.22.50 – O rei Jeosafá morreu e seu filho Jeorão assumiu o trono.
II Rs.2.11 – Elias foi arrebatado.
Portanto, Elias teve tempo e todas as condições normais para enviar uma carta normal para o rei Jeorão. Não se trata de carta do além, nem psicografia (graças a Deus).
Conforme II Rs.1.17, Elias estava na terra, vivo, em corpo (carne e ossos), e alma e espírito (afinal, sou tricotomista)
O texto de IIRs.3.1, que cita o início do reino de Jorão em Israel, é uma recapitulação do assunto, pois a posse do monarca já tinha sido relatada em 1.17. Logo, não ocorreu após o arrebatamento de Elias descrito no capítulo 2.
Podemos continuar a leitura de II Reis até o fim. Se começarmos a ler I Crônicas, que vem logo a seguir, precisaremos estar conscientes de que, depois das genealogias, o livro vai recontar a história dos reis de Israel e Judá. Só falta a turma da heresia mal feita dizer que Davi morreu em I Rs.2.10 e reencarnou em IICr.2.15. Na sequência das crônicas, os monarcas já citados aparecerão novamente no texto e Elias também (IICr.21.12)
Os apologistas do espiritismo querem provar, a qualquer custo, que Elias tenha morrido para que possam justificar sua suposta reencarnação em João Batista. Ainda não foi desta vez.
Encerro citando as palavras de Jesus: "Errais não conhecendo as escrituras nem o poder de Deus". Misericórdia! Amém.
Será que o profeta enviou uma carta do além para o rei Jeorão?
Anísio Renato de Andrade
Bacharel em Teologia
Bacharel em Teologia
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